Bioeco Incompleto

"Vida incompleta ecoa humanidade." - Stephánne Mallarmé em carta a Paul Valéry.


I. Bio: “Tudo soa, mas o que sempre musica?”
 O som constitui um ser vivo e uma forma de entranhamento vital com ressonâncias sutis sobre a própria vida que a muito pouco tempo tivemos experimentos empíricos o bastante para passarmos a perceber de modo científico. 
_
 Uma definição simples de vida é a de um fenômeno que anima a matéria. Qualquer ente material ao ser animado em meio aéreo produz modulação de pressão, percebida como som pela escuta.
_
 Considera-se tradicionalmente que uma entidade é um ser vivo se exibe todos as seguintes características pelo menos uma vez durante a sua existência:
§ Crescimento, produção de novas células. Os sons ressoam as escutas e através de seus hospedeiros humanos, se multiplicam tanto física como abstratamente. Daí nascem os instrumentos-totem do áudio (os alto falantes e gravadores), os modos de vida centrados em ritos sonoros e os lugares comuns das línguas, os fonemas.
§ Metabolismo, consumo, transformação e armazenamento de energia e massa; crescimento por absorção e reorganização de massa; excreção de desperdício. As escutas humanas são aparelhos metabólicos do som. As estruturas geométricas musicais (melodias, ritmos, harmonias) são as enzimas que gerem o conjunto de transformações que os fluxos químicos do entranhamento sofrem no interior da escuta. Os ruídos intencionais (rúsica) são suas excrescências.
§ Movimento, quer movimento próprio ou movimento interno. O som é o próprio atravessamento entre estes dois modos de movimentação. Não sabemos distinguir a afinação do mundo da de nosso sistema nervoso e sanguíneo.
§ Reprodução, a capacidade de gerar entidades semelhantes a si própria. Basta notar os sistemas de reprodutibilidade de cantos e rugidos nos animais, as mudanças harmônicas do timbre de uma folha de acordo com seu desenho.
§ Resposta a estímulos, a capacidade de avaliar as propriedades do ambiente que a rodeia e de agir em resposta a determinadas condições. O humano é o sistema nervoso do som e devido à sua efêmera existência (as diversas taxas de atualização da escuta como o tempo de vida de um som) poderíamos dizer que também seu espaço, seu canto. Através de nós, ele ecoa como subjetivação.
_
 O som é vivo sistema autopoético em constante evolução, tanto molecular (musical), como especimal (aural) que maximiza o seu leque de futuros possíveis.
§ E a escuta viva, um sistema que reduz localmente a entropia (ruído) mediante um fluxo de energia criadora de formas geométrico-musicais.
1.1. Bioacústica..
 Ouvir o audível (a totalidade abstrata dos sons além mesmo de nossa escuta) é uma composição vital de foco da escuta. Esta hiperestrutura Não existe ainda nenhum modelo consensual para a origem da vida como para a origem do som e da música, mas a maioria dos modelos atualmente aceitos na biologia baseiam-se duma forma ou doutra nas seguintes descobertas:
§ Condições pré-bióticas plausíveis resultam na criação das moléculas orgânicas mais simples, como demonstrado pela experiência de Urey-Miller.
§ Fosfolípidos formam espontaneamente duplas camadas, a estrutura básica da membrana celular.
§ Processos para a produção aleatória de moléculas de RNA podem produzir ribozimas capazes de se replicarem sob determinadas condições.
 Existem muitas hipóteses diferentes no que respeita ao caminho percorrido das moléculas orgânicas simples às protocélulas e ao metabolismo. A maioria das possibilidades tendem quer para a primazia dos genes quer para a primazia do metabolismo; uma tendência recente avança modelos híbridos que combinam aspectos de ambas as abordagens.
 Podemos definir carne e água como arquiacústica (princípios da escuta) humana. Ouvir é espacial, sensitivo e temporal. Ouvir permite-nos saber das características de um espaço (altura, largura, profundidade), sendo portanto forma primeira de arquitetura (enquanto construção abstrata de estruturas ambientais), seu presente. O som penetrável, a escuta relacional.
Ele está sentado numa sala diferente da que você está agora. Ele está gravando o som de sua voz falando e vai tocá-lo novamente nesta sala de novo e de novo até que as frequências ressonantes da sala reinforcem-se de modo que qualquer semelhança de seu discurso, com excessão do ritmo, seja destruído. O que você ouvirá, serão as frequências de ressonância naturais da sala articulada pela fala. Ele não toma tal atividade como uma demonstração de fatos físicos, mas mais como uma maneira de suavizar quaisquer irregularidades que sua fala possa ter. O que resta da voz é um punhado de ressonâncias, que fazem parte do corpo acústico da sala.
§ Arquiacústica infrasônica da música e adaptaudição da escuta musical dos focos de escuta pela composição do audível.
Caladas todas as aves e insetos assim que falou a cachoeira, buraco negro no espectro. Fonte do sintom inesgotável. 
 1.2. Biofonia.. cristal e fumaça
   § Ergofonias entre Geofonias e Fisiofonias.
Música, a flor do som.
   § Molecularidades harmônicas contextuais.
 1.3. Bioruído.. hardware e software
   § Transgêneros aurais.

II. Eco: “Há um trovão que antecede o raio.”
 A escuta do sondador. O Grito de Eco a Narciso. Apesar de a luz ser mais veloz que o som em proporção astronômica, a percepção humana ocorre de maneira inversa e percebe os sons como imediatos aos quais as imagens se seguem. "Ouvir propõe, Ver dispõe."
 2.1. Ecoacústica..
   § Do som ambiente à sonosfera pelo urbanismo acústico dos nichos soantes.
   § Espectro livre
 2.2. Ecofonia..
   § Antropofonia e Sociofonia na ressonância da entrescuta no audível.
   § Produção cultural de ambientes acústicos pseudo-naturais. Turismo musical e paisagem sonora. Confinamento da escuta interna à muzak-jingle e da externa alienada aos seus ruídos. Zooacústica e o confinamento segregário como modelo de controle do instinto auditivo.
 2.3. Ecoruído..
   § Ressonância espectral e ruído criador.
   § Travessia aural de paisagens ruidísticas.

III. Bioeco:
 A composição de uma ressonância vital através do som. Peito a vapor. Primeiro ser vivo eletromecânico...
 3.1. Bioecoacústica..
   § Acusmática primordial do princípio vital. 
   § Captação e captura. Panfônico, privacidade e controle aural.
    Metareciclando escutas. Gambiologia como base estrutural do steampunk.
 3.2. Bioecofonia..
   § Maquineísmos e orgasmonismos.
3.3. Bioecoruído..
   § Aura, crença soante e resistência civil da escuta. 



...

o texto explodiu pra fora do sistem...

:


O material da música, assim como quer Bakhtin, não é o som, e sim o efeito, a tensão volitiva do artista que molda esse material. a arte sonora coloca a sensação diretamente no centro das afecções

O que resta da voz é um punhado de ressonâncias, que fazem parte do corpo acústico da sala.

A  performance, como afirmação da vivência interpessoal, é a afirmação dessa passagem do material (que vibra) para o imaterial que é vibrátil, que ressoa.

Arte terrestre-sonora (land-soundart) que mistura dois movimentos estéticos: um criado a partir da situação de escuta, que exige participação – o caminhar pelo campo que realiza a mixagem –, e outro que é a própria instalação em si – os alto-falantes pelo campo de escutas podem ser contemplados à distância.

Pintamos, esculpimos, compomos, escrevemos com sensações. As sensações, como perceptos, não são percepções que remeteriam a um objeto (referência): se se assemelham a algo, é uma semelhança produzida por seus próprios meios, e o sorriso sobre a tela é somente feito de cores, de traços, de sombra e de luz. Se a semelhança pode impregnar a obra de arte, é porque a sensação só remete a seu material: ela é o percepto ou o afecto do material mesmo, o sorriso de óleo, o gesto de terra cozida, o élan do metal, o acocorado da pedra romana  e o elevado da pedra gótica. O material é tão diverso em cada caso (o suporte da tela, o agente do pincel, ou da brocha, a 
cor no tubo), que é difícil dizer onde começa e onde acaba a sensação, de fato.

Infelizmente, ouvimos o ruído, já não podemos fazer como se só existíssemos nós e Deus no mundo; lamentos, gritos, soluços, brados, encantamentos nos agridem muito antes de receberem sentido; temos, pois, de compor música a cada instante para sobreviver […] Sem essa obra de fundo que contém o ruído de fundo, nada se mantém unido, nem as coisas no mundo, nem as pessoas no coletivo, nem os sentidos, nem as artes, nem as partes do corpo. A música vem da filosofia, ninguém pode se dedicar à segunda sem passar pela primeira.

Como com a fotografia, a gravação sonora foi desenvolvida consistentemente em busca de um refinamento da sua maior virtude perceptível: a habilidade em recriar, ainda mais precisamente, um evento retirado do seu tempo e espaço original. As duas mídias foram criadas para preservar um efeito de tempo-real, mas ambas foram manipuladas por artistas para criar realidades que só existem como reprodução.

“Os sons são tecidos com a memória”

O que a arte permite perceber é a diferença existente entre um silêncio meaningless e outro silêncio – um momento de quietude, como container. O silêncio que contém a potência de todas as sonoridades em si. Silêncio pode ser algo que não representa uma negação de sentido ou de produção. A distinção entre ready made e abandono.Vá lá e ouça. Ouça quando isso balança, ouça quando isso roda. Ouça quando você mexe aqui. "Que terror invade a cabeça de Van Gogh, tomada num devir girassol?" Ouve a luz em seu corpo tinta.

O som é captado, gravado, ‘lido’, escutado. O que se passa? O que é que finalmente se escuta no lugar daquilo que foi escutado diretamente? Minha morfomicrofonação (como dizia o Caesar) me torna este monstro entre dançarino sem corpo e poeta sem palavras...


Simetria é falta de informação que procria.

“Sons nãointencionais”, foundsounds & Acusmática: descobrir a potência do som que existe, não no seu instante real e imediato, mas em sua separação de qualquer localidade... 

Mudando a produção de música do lado da ação para o da audição, do  all sounds a uma situação de always sounds.

Radiação sonora … reflexão… difração … ressonância … 78 ondas estacionárias … realimentação … batimentos … e fala:

"Musa Civ Natura."

Conhecer-fazer em lugar de saber-poder.

Ontogênese da autonomia aural, a complexificação causada pelo ruído, e suas ressonâncias estocásticas cogniscíveis geram uma ampliação 

significante entre distintos níveis e naturezas das sensações linguísticas.

Por este tensionamento de um campo da escuta, a mesma pode relaxar outras áreas de tensionamento sinestésico revelando outra faceta da 

aura {outraura}  como ponte entre ressonância vital e a geofania da músical.

Nutrição aural. Ruído como biodigestor da escuta, tal como a biologia é o estômago da linguagem.

Tumor e urbanismo, carbono e a complexificação além da organização entrópica gestando o câncer capital em seu tumor habitacional da 

colméia que já não demanda o contato com a terra ou com o céu pelo encontro subjetivo e midiatiático.

Turismo no lixo cultural, ruídos nas trilhas abertas nos campos das escutas. Quais as empedâncias de um saber na harmonia contextual?

Metaterapia da música, psicofonia.

Entrescuta como inconsciente coletivo aural numa relação, auto-inconsciência da escuta. Ressignificar todo o campo de escutas de uma festa 

com uma inserção precisa, efeito coquetel molotov.

Reciclagem e smaplerologia perpretam a produção cultural de lixo (físico e subjetivo), mas como poderíamos um intracuidado soante e uma 

intersustentabilidade das escutas (incluindo ressonâncias estocásticas quânticas de qualias.

A lógica imposta ao instinto (zoológica), reduz o devir-animal à territorialidade e encarcera os corpos aos ciclos fechados de vida.

Transpolsão, pleroma de poema:



0 comentários:

Postar um comentário