“Pratica a música, Sócrates.” - Oráculo Órfico Pitagórico.
1. Nietzscheana ressacralização do mistério, potencialização de paixões e raciocínios através da transcendência estética, esquizopathológos musical à panarquia ruidosa do mundo, o som além do humano;
1.1. Apolíneo sonhar, bela lógica da fé nos sentidos mensuráveis;
1.1.1. Órgão sem corpo do som, guerra de musas;
1.1.2. Mitologia cosmogônica, metapragmática de caos a logos;
1.1.2.1. Véu de ilusão necessário ao ato perante o rigor das formas absolutas dos afetos;
1.1.2.2. Matemática, número e nôumenon, pontos;
1.1.2.3. Retroalimentação entre arquitetura e ontologia, técnica do princípio e princípio da técnica;
1.1.2.4. A necessidade da estrutura ausente da psiché, a linguagem do jogos;
1.1.2.4.1. Regras, responsabilidade, autoridade e autoria;
1.1.3. Entrelaçamentos de ruído e silêncio;
1.1.3.1. Díade infinitesimal, o paradoxo do ente entre ser e não-ser, linha da dimensão primeira;
1.1.3.1.1. A re-percussão erótica, pulso, ritmo;
1.1.3.1.2. { tempo / espaço = velocidade }
1.1.3.2. Díade infinita, dentre o devir e o uno, linha da dimensão segunda;
1.1.3.2.1. A flauta de Pan, monodia das alturas melódicas;
1.1.3.2.2. { espaço / tempo = distância }
1.1.3.3. Tetráde, a dupla quadratura das díades alicerceando a tridimensionalização no plano decimal:
1.1.3.3.1. { ( 01 ) = ( 1, 2, 3, 4, 5, 6, 7, 8, 9, 10 ) }
1.1.3.3.2. A lira de Orfeu, polifonia das polêmicas monódicas;
1.1.3.3.3. { velocidade / distância = aceleração }
1.1.3.3.4. { distância / velocidade = intensidade }
1.1.3.4. Retorno da série à mônada, a soma das grandezas sonora na cor timbrística;
1.1.3.5. { intensidade / aceleração = aceleração / intensidade = harmonia }
1.2. Dionisíaco embriagar, sublime fé na lógica dos sentidos incomensuráveis;
1.2.1. O som do corpo sem órgãos, músicas de guerra;
1.2.2. Imponderável logomítica, devaneio ápeiron de logos a caos;
1.2.2.1. O lance dos dados, ser-no-vigor dos fatos, relatividade dos afetos formais;
1.2.2.2. Numerologia subjetiva, a matemática qualitativa;
1.2.2.3. A insubmissão sonora à narrativa distinção tempo/espaço, substância formal dialética inerente a qualquer metro;
1.2.2.3.1. Aeion, tempespaço indistinto das Eríneas, Eros e Caos;
1.2.2.3.2. Quântica das durações e potências comovedoras dos sons;
1.2.2.3.3. Interdependência entre os jogos de linguagem, estética, pragmática, crença e lógica;
1.2.2.4. Criador, suprema criação de domínio público;
1.2.2.5. Corpo, metáfora primordial das mathemas;
1.2.2.6. Limites entre sons e símbolos, semiótica e fenomenologia harmônicas:
1.2.2.6.1. { 0 = = imponderável, caos e tao [ Silenos ] }
1.2.2.6.2. { 1 = uno, indivíduo e identidade }
1.2.2.6.2.1. { 01, 10 = 2 = díade, separação e confronto [ Apolo e Dionísio ] }
1.2.2.6.2.2. { 01 = 3 = tríade, movimento e representação [ Édipo Prometeu ] }
1.2.2.6.2.2.1. { 0123 = 4 = tetráde, solução e problema }
1.2.2.6.2.2.2. { 0 + 1 + 2 + 3 + 4 = 10 = dobra dimensional }
1.3. A aparição das aparições, o des-velamento(alethéia) dos mistérios
1.3.1. Eterno retorno da diferença subjetiva, volta a §1.
2. Socrática contradição da quadratura instinto raciocínio, moral mística anti-mística demasiado humana;
2.1. Religare filosofia, decadência da poiesis, a arte anti-arte;
2.2. Castração das potências de paixões e razciocínios, moderação e virtude;
2.2.1. Paradoxo da caverna, o fractal representacional;
2.3. Voz e verbo no simbolismo corpóreo, princípios ordenadores;
2.3.1. Ambivalência do choro primeiro, nome e excremento;
2.3.2. Submissão de todas faculdades técnicas à linearidade bidimensional do texto;
2.3.2.1. Redução dos fluxos ao administrável, a representação de música, canção de captura;
2.3.2.2. Progressivismo técnico e modernismo formatador;
2.3.2.3. Jogos pragmáticos com peças musicais e jogos musicais com peças pragmáticas;
2.3.2.3.1. Músicos e atores de música, ouvintescompositores e partituradores;
…Um Devaneio Filosônico…
Os sons que nos precedem à existência e ainda estão por cessar são indissociáveis da nossa utopia sentimental do silêncio: são a substância, a emoção de fundo, de nossas arbitrariedades harmônicas.
Através da musicæ , tentativa de apaziguar o tormento deste ouvir transconsciente à demasiado complexa harmonia do mundo, reduz-se o foco auditivo a um espectro compreensível, e preferivelmente confortável, das faculdades neuropsicológicas do ouvintecompositor. Esta relação ambígua da estética enquanto a ordenação da complexidade , permite-nos tanto experimentar às transformações da audição orbitando ao ideal simétrico sob a gravidade sensível-racional do corpo quanto encurralar no ângulo fechado dos cantos entre melodia, cortimbre, ritmo e harmonia as infinitesimais arestas das freqüências de nossa esférica escuta .
Deixamos que esta segunda imagem de harmonia reverberasse em todas nossas relações com o musical dividindo os gestos de intuição-criação das de representação em palcos tridimensionais e interpretação padronizada de instrumentos padrão, para encaixar o movimento no espaço, partituramos. Por querermos controlar o belo e o sublime acabamos por destruí-los .
Sustentando este grande musical espetáculo da institucionalização da intuição, o som comprimido em três dimensões serve de massa para as arquiteturizações pseudobarrocas de escadarias ascé(p)ticas de compositores feitos ícones da seriedade sacra deste ofício. O músico reduzido a ator de música advoga seu conhecimento da lei de seu instrumento masturbador, e virtuose que é, com o que resta do lúdico dado ao erro, toreia o ruir sob o véu-técnica e este sistema especialista veste seu ídolo.
As disciplinas formais dos estilos, frente às quais se prostram estes tardios intérpretes copistas, mascaram na logomítica marcha storia-scientia suas para-doxas religiosas de retroalimentação entre o paraíso perdido da forma e a esperança no juízo final, confortando as estreitezas dimensionais de nosso espectro de sensibilidade na linearidade do progresso, para enfim, na nostalgia do presente fazer da própria existência ensaio de seu produto gregário, a obra . Reduzidas as músicas assim a A Música, objeto de consumação: repetição dos resultados certeiros em lugar dos processos de devaneio através das impossibilidades das certezas. Eficácia plena da gestão sócio-econômica do gozo fetichizado em um refinamento cultural . A música tal qual o corpo, porém, é algo para muito além do prazer .
O que toca o humano ao tempo segue em cânone contra as barreiras culturais que almejam ao estético estático. Entre ambos, fugas dos ouvires na contínua instabilidade do saber-poder, as ondas das modas entrelaçam as harmonias das eras. O estudo harmônico para chegar aos axiomas da mathesis isolava a música numa audição idealista. Relevando como ruído, a relação entre as incontáveis faculdades da ecologia cognitiva de um ouvintecompositor, e ainda o vão-elo entre diversas subjetividades, estes inconscientes harmônicos. As artes, estes organismos vivos evoluindo a uma velocidade estonteante entre nós, meros hospedeiros , seguem porém se destruindo e unindo mutuamente em busca de uma harmonia contemporânea .
A crítica à teoria das esferas através dos limites epistemológicos feita pelo sintetista logoi technai deixa saltar aos ouvidos o religare entre crença e ciência no tetratkys . Nossas concepções harmônicas surgem das consonâncias e dissonâncias para com os sons inconscientes, não o contrário, como se as estrelas seguissem o princípio da humana música. Esta assunção verídica, porém, é senão uma arma numa velada disputa entre dois métodos de cerceamento das possibilidades auditivas pelo controle na antropomorfose do sonoro. Qual prisão seria a mais adequada para a intuição musical, o número ou a palavra? O cantochão balbuciaria, os cantos gregorianos sussurrariam e a sinfonia em fortíssimo clarearia: ambos! O inegável triunfo da ópera e da canção estão intimamente ligados à necessidade desta criação de uma audição dócil , conforme com a lei dos números, desta agricultura dos nômades sons, literaturização do gado ouvinte humano . Neste sentido, o jazz foi de fato, como querem alguns , a continuação da música eruditista européia, nela somando através da imagética de emancipação não mais que o cálculo rítmico enquanto variável das sonatas modernistas.
O ideal da (de)composição moderna desemboca nas experiências limítrofes da dialestética sonora do século XX iniciando a transmediação do texto e seu contexto na formação de texturas . Que sons queremos que nos vistam? Como liberar as artes übermensch de nós? Passos primeiros duma nova estruturação das sempre crescentes dimensões da existência humana, este eterno retorno ao equilíbrio entre o caos do ouvir ao ruído-mundo e a necessidade da ordenação cristã dos rebanhos de mercados musicais, passam pela reinvenção do músico de papel enquanto xamã do ritual-jogo do ócio, imanência do maestro , carcereiro panóptico e metrônomo intensivo; em busca de um renascimento da música no espírito da filosofia trágica…
“Sem o imperialismo do conceito, a música teria substituído a filosofia: teria sido o paraíso da evidência inexprimível, uma epidemia de êxtases. Não vejo por que reler Platão falar através de Sócrates quando um saxofone pode nos fazer entrever igualmente um outro mundo.”
—Emil Cioran
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