Silêncio, por favor! Falar, gesto de profanação. Rompemos as intrincadas tessituras entre silêncio e som para interpormos nosso tremular verborrágico, a explicação quer ter ao inexplicável, o paradoxo é a paixão primeira do que é.
Nos lembremos que informação não é conhecimento, conhecimento não é sabedoria, sabedoria não é beleza, beleza não é amor, amor não é música e a música… a música musica algo para muito além de nós.
Jogados no mundo, movemo-nos aos caprichos da guerra de tudo contra tudo, sinergia das potências… Só habitamos pontes, linguagens, vínculos antropocósmicos perdidos na cegueira das sensualidades, semióticas. Os amantes das mathemas epistémicas cruzam os abismos absurdos pautados em seus cabrestos axiomas, limitam os sensos pelo bom, toda procissão tem sua pragmática ritualística. Ao devaneio poético, resta senão suspirar: Levai-me caminhos!
Ouçamos a sinfonia do (e no) mundo, {…} não podemos esquecer o som das britadeiras e dos automóveis, as pontes estão sempre em construção. Cessasse o esgoto radioativo e suas dança do acasalamento palavra-lei som-potência do cancioneiro; não mais rissem as buzinas do livre-arbítrio e do fluxo; os mascates parassem de vender as vendas; não estendesse o sonic boom aviador às linhas de morte, fuga e fumaça das geometrias orbitais; silenciada a pólis aos seus 40 deciBéis por metro quadrado; ainda assim, a mais delicada sutileza do concreto pleitearia ao fortissimo furioso do barro oco.
A distinção entre ruído e música toca o cerne da estética transcendental, o que é indesejado e o que é desejável do que devem? Esquizofonia, o cárcere auditivo a uma paleta de modulações das ondas sonoras (cortimbre, melodiarmonia, ritmopulso) é também o abrigo de nossos valores oníricos, moiras e morus. Durar cruza o espaço tal qual psiché atravessa qualquer investida do lógos e inversamente. Nos alimentamos das origens que retemos nestas tramas, somos como soamos.
Onde ouvimos o agora? {…} Porão escondido atrás das cópias sob a curva do rio, ponte fictícia do religare entre fé e o que é. A alcova, o ninho, a toca, a terra não tem limites abaixo em nossos sonhos, o porão é o portão do hades. O refúgio sempre está no olho do furacão, os ouvidos não piscam. Aqui está quente porque lá fora faz frio, é numa divergência convergente que alicerçamos nossos paraísos artificiais. É nos invernos da memória que se atualiza o lar de uma casa, sua máquina de afronta ao cosmo e nisto todo cálice é morada, brindemos.
Que ouvimos do aqui? {…} As vigas de sustentação tremem, respiramos, respiramos, não há momento que consigamos estar juntos sem alguém falando {…} O espaço seduz-nos com a intimidade a agirmos, a movermos os cômodos de lugar, os centros de solidões, tédios; paixões agrupadas nas salas da construção de mais um corpo sem órgãos, reduzimos os refúgios de nossas musas ao reduto de nossa autoridade de autores, a ágora obriga-nos a subverter nossas relações em políticas.
Conseguiríamos calar nossas vontades tempo suficiente para ouvir nossos tantos corpos, porém? {…} Os corpos humanos estão em corpos sociais em corpos arquitetônicos em corpos celestes, e estes, entre outros criam corpos sonoros da mesma maneira que meu corpo linguístico enquanto vos falo.
Que pede-nos aqui e agora esta voz que silencia? Favorecidos com a a-tensão, suspendamos por dez minutos a palavra, não falemos. Experienciemos ao menos uma vez este porão de subjetividades sônicas, devaneemos a outras escutas de nossas incontáveis peles além da ratio-plausível. Para que a música nascida de cada ínfimo movimento e gesto nossos, a harmonia sonora dos corpos ambientes, não nos trespassem despercebida. Só por hoje deixemos soar os cantos de nós, nos esqueçamos só por hoje do véu da técnica e deixemos que a música nos dance. Ouçamo-nos sem palavras. Silêncio, por favor! Em dez minutos musicaremos…
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